domingo, 2 de outubro de 2011

Um Show, uma Surpresa


Por Ricardo Silva

Qualquer pessoa que se preze a ouvir música de boa qualidade, mesmo sendo
esse um conceito tão complicado de explicar, tem as bandas que os deixa divididos.
Aquelas bandas que você não sabe muito bem se gosta ou se não gosta, e que por vias
das dúvidas, prefere dizer que não gosta. Essa era minha opinião em relação a banda
amapaense Mini Box Lunar. Essa banda me dividia. O seu som é totalmente diferente
do que é feito em termos de música no Amapá, e ousaria dizer – com essa ousadia tão
abusada de quem pensa que sabe – de boa parte do norte. Contudo, eu não me sentia
cativado, ela não tinha me pegado pelos ouvidos. Ainda não tinha me pegado, porque
uma apresentação, um pocket show, fez com que essa minha divisão se diluísse, e eu
mudasse todos os meus conceitos.
Numa apresentação no Largo dos Inocentes, um famoso ponto boêmio em
Macapá, a Mini Box Lunar fez com que todo mundo fosse embalado com seu som
psicodélico, com vagas lembranças da música de saloon dos westerns, e bebendo em
tantas referências musicais distintas, que o som é muito particular, peculiar.
Banda boa é aquela que sabe tocar mesmo com os entraves técnicos. Mini Box
deu um jeito, mesmo com uma sonoplastia sofrível: que deixou o baixo num silêncio
agoniante, sem retorno no back vocal do Alexandre Avelar, guitarrista, com o teclado
do Otto Ramos muito alto. Ainda assim a banda fez um show que impactou esse rapaz
que escreve a vocês. A vocalista Heluana Quintas com uma dança que achei melhor
classificar como “renatorussoana”, com uma cabeça nervosa, um ombrinho trêmulo,
cativou o público. O mais legal foi a receptividade do público, composto
majoritariamente por pessoas mais adultas, que se abriram para os experimentos
musicais da Mini Box. A reciprocidade foi grande, todos ao som da banda, mexendo a
cabecinhas, se deliciando com as notas altas da Heluana, e seus gemidos, alguns até
arranhando trechos de músicas recém-conhecidas. Foi um baita show. Com a
participação de Juliele, cantora amapaense, no bolero gostoso, o show se completou.
Com uma apresentação dessas não pude deixar de ser surpreendido. Fui pego de
surpresa batendo o pé no ritmo de “Amarelasse”, e dizendo para a amiga que estava
ao meu lado “olha que banda boa!”. Fui cativado pelos ouvidos. Agora se alguém me
perguntar se gosto de uma tal banda chamada Mini Box Lunar, minha resposta vai ser
outra, dessa vez sem estar dividido.


Confira o video feito por Ronaldo Costa


http://www.youtube.com/watch?v=SKZdAzPOsvQ&feature=player_embedded&noredirect=1