Como fez sol hoje
Nos deparamos com um prédio azul, quase em ruínas, e por segundo quis não acreditar que seria a casa, ficamos olhando os números das casas em volta, e o Chicão resolveu perguntar pro tio do bar...”é aqui que é a casa da Família Baptista?” aê o tio responde: “Não, essa casa era da Rita Lee!” ... ficamos meio triste e metade felizes...e atravessamos a rua pra fazer umas fotos, e como na espera de “Rita” no portão aparece um tio cabeludo que passa com uma sacola com 6 cervejas e diz: “Fazendo fotos da casa né?!”...não entendemos muito e seguimos a louvação ao prédio, ele volta e pergunta: “Vocês são músicos?” com a resposta afirmativa dos três, ele pergunta de qual banda, ae o Sady responde: “Somos do Mini Box Lunar” e cara responde (causando susto)...”eu conheço a banda de vocês! É uma que tem 2 meninas no vocal né?” ae a gente responde que sim, exatamente...ele diz: “Que legal, eu sou Luiz Carlini do Tutti Fruti...” pausa para puxar o fôlego, e se segurar pra não tremer (coisa que o Sady claro não conseguiu) e nesse momento tudo ficou mais ensolarado!
Perguntamos primeiro o que ele tava fazendo ali na rua e depois se era a casa da Rita Lee mesmo...ele responde dizendo: “Eu moro aqui no lado, essa é a casa dos meninos, e ali na frente era do Made In Brazil...essa rua é a mais rockinroll do Brasil cara!”...rsrsrs...quase choro de verdade, fiquei chocado com tanta coincidência, fomos andando, o Chicão passou no banco antes, comemos besteira na rua, e no momento exato tudo acontece como se fosse marcado...
Na conversa que foi ali no portão dos “Mutantes” ele conta que a casa perdeu muito das características originais, que pessoas ocuparam alguns cômodos e que hoje é cheio de quartinhos, quase um cortiço. Mas fez questão de lembrar coisas da época sessentista, do tempo em que todos passavam por lá, pra tocar, pra ver e comprar peças do Claudio César, e vivenciar aquele ambiente transformador, mesmo eles não percebendo isso.
Em pouco tempo conversando ouvimos várias história que nunca ouvi em entrevistas, em biografias, não sei se li todas, mas não recordo do amplificador de baixo de concreto, da guitarra do Ségio Dias sendo tocada e a rua toda ouvindo no rádio e pirando com a nova invenção do Cláudio, e de como era prazeroso pro Carlini ser roadie dos “meninos” mesmo que na época não existir o termo “roadie” ...”na verdade eu não lembro como se chamava roadie...rsrs...” diz ele sorrindo e olhando para trás dos ombros do Chicão...como se estivesse vendo o fluxo de pessoas no estudio e na rua...que era movimentada sim.
Ficamos mais uns minutos olhando a casa, não deu coragem de entrar porque vimos pessoas saindo e fechando o portão...Luís Carlini ainda disse que vai muita gente lá ver a casa...”Eles até levam pedaço do muro cara!” mas ele pouco fala com essas pessoas, no entanto, gostou de ver músicos que curtem a mesma coisa que ele, e que também estaria esperando um Ep do Mini Box Lunar. Na ocasião, aproveitamos e convidamos pro Show do SESC Pompéia, ele com um ar de “não to muito disposto” disse que seria meio difícil ele ir, mas que está esperando a gente retornar e levar o Ep pra ele escutar, pois conhecer a banda ele já conhece da internet, e gostou muito...aê é de balançar as pernas, se emocionar muito, numa tarde de sol num inverno,
Carlini andou uns metros conosco, parou na frente do portão de sua casa, disse que aquele era o lugar pra chamar ele quando retornássemos, reclamou do transtorno na rua devido a algumas construções, riu disso, puxou a chave do bolso, abriu o portão e disse: “...minha casa ta bagunçada, e não seria legal apresentar nesse estado, mas tragam o cd, vou esperar...”
Emocionado, feliz e esperando o dia amanhecer pra levar o Ep.
...claro que ao chegar novamente em São Paulo, a Helô fez questão de ir lá...entregamos o cd pro pai do Carlinni, conhecemos a mãe dele também, e esperamos uns minutos, ae depois nos disseram que ele havia saído pra ver um som e talvez demorasse. Valeu muito essas visitas, de ir num lugar mágico de verdade, com um clima de rockinroll até hoje, e com tudo o que passa na cabeça, com o pensamento naqueles dias de festa na rua "mágica" e de toda a contribuição que os Mutantes, Tutti Frutti, Made in Brazil e outras bandas que moraram, criaram, e permanecem nos muros, portas, no clima, na nostalgia do tio da venda, do Luiz Carlinni (que mora no lado e que é tambem parte da história) e dos outros moradores da "Liverpool brasileira" que no final das contas, é muito mais simbólica e importante do que a Liverpool, é nada mais nada menos que a Venâncio Aires, em especial a casa de número 408.
Abraços!